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terça-feira, 4 de maio de 2010

A MORTE DO LOBO...



O Lobo, lindo, de pelagem cinzenta e olhar profundo, solitário e triste, cabeça baixa, caminha, cambaleando, pisando a folhagem, na minha direcção.


Os seus olhos tristes, feridos de morte, olham-me, com desespero.

Eu sei, ele sabe, a morte está perto.

De súbito, solta um longo e doloroso uivo, que soou em toda a floresta como uma despedida.

O Lobo estremeceu... Eu estremeci...

Conduzi-o até uma gruta, escondida entre abetos, e ali, no abrigo da folhagem, exalou o último suspiro, nos meus braços, que o abraçaram fortemente...

– Vai, Lobo, vai...

Leva contigo o meu coração despedaçado e as minhas lágrimas...

A tua vida foi uma constante luta pela sobrevivência, no mundo onde manda o homem. Que mal fizeste tu para que ele te assassinasse?

Mal nenhum, eu sei.

Tu partiste, Lobo. Para onde?...

Como posso saber?...

Só sei que nesta floresta, na nossa floresta, permanecerá a tua honestidade de Lobo e a nossa amizade, em cada madrugada que vier...

Para sempre, Lobo...

Para sempre...

 
(Origem da imagem: Internet)

9 comentários:

  1. Salvé Josefina
    Os nossos irmãos lobos realmente foram sendo dizimados pelo ser humano, incapaz de renovar laços paradisiacos ou pelo menos de diálogo.
    Talvez no seu conto-poema pudesse, além do canto de cisne, deixar o lobo comunicar com os seus olhos e a sua mente, algo que esquecemos e não temos desenvolvido suficintemente mas que a Josefina alude referindo a amizade que havia entre ambos...
    Nossos irmãos lobos, grande verdade, grande amor...
    Longa vida a eles na Terra...

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  2. Tenho uma relação espiritual muito forte com os Lobos, que não sei explicar. O espírito do Lobo vive em mim. Neste conto-poema (como lhe chama) fiquei-me apenas pela sua morte. Mas tenho uma ficção para ser publicada com o nome «A Hora do Lobo» (um título que já existe por aí, mas o meu foi criado muito antes e a história não tem nada a ver com a outra)) onde permito ao Lobo exprimir-se de muitos modos. Lamento viver num país onde a Literatura está moribunda. Aguardo melhores dias para poder publicar a minha Trilogia das Horas.

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  3. Não direi que a Literatura está moribunda, mas sim muito influenciada por critérios economicistas e mediáticos... de tal modo que o melhor pode ficar inédito e o mais fraco vender-se com fartura ou como farturas...
    Fracturada vai a rota peregrinica ou galataica da Literatura de mais substância, pois vê-se excluída das miragens e multidões citadinas e apenas as poucas almas verdadeiras do deserto a ouvem ou procuram...
    Não esmoreça, tempo virá em que será mais ouvida e lida, ou sobretudo publicada...
    Mas, subtilmente, certamente que já o é, nas letras, palavras e sons ondulantes que percorrem as florestas e alegram lobos, cisnes e pássaros...

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  4. Há noites
    que há luas e são sóis

    Há noites
    que há uivos e são canções

    Há noites
    que há dias de criação

    Há noites
    imprescindíveis

    Há dias
    que não...

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  5. Não sei o que dizer. Por vezes sinto-me peregrinar por esses abismos que o universo esconde, e no silêncio desses abismos encontro-me com todos os outros seres, não humanos, e transformo-me.
    Quanto às letras, talvez, quando chegar o momento, faça como fez Eleutéria: destruo todos os meus papeis para que nada reste de mim.

    Fico muito grata por estas visitas furtivas ao meu blog sonâmbulo.

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  6. Obrigada, misterioso Mário.
    Há dias que não, sim...
    Mas há dias que sim, não?...

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  7. Yin completa Yang...
    ...eu, noctívago, diria à laia de assentimento que há dias que parecem noites, mas, como disse Rostand...

    “É à noite que é belo acreditar na Luz.”

    ...ou Silvio Rodríguez...

    Yo digo que las estrellas
    le dan gracias a la noche,
    porque encima de otro coche
    no pueden lucir tan bellas;

    y digo que es culpa de ella
    —de la noche— el universo,
    cual son culpables los versos
    de que haya noches y estrellas.

    /...

    http://www.youtube.com/watch?v=cDJ5pjcIfG8

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  8. ...além de que só à noite se vêem os pirilampos...

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  9. Adoro a Noite, Mário. É misteriosa, diz-nos segredos impartilháveis; pode ouvir-se os burburinhos amorosos dos seres noctívagos...
    É belo o que disse Rostand, e é verdade que só à noite se vêem os pirilampos, e podemos cantar para as estrelas, como Rodríguez. Houve um tempo, em que eu me empoleirava no telhado, à noite, e também cantava para as estrelas, e fazia serenatas à Lua, e os gatos vadios, que por ali andavam, ouviam-me...
    Obrigada pela partilha da música.

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