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sexta-feira, 16 de março de 2012

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

DESLUMBRAMENTO...



De súbito,

as trevas dissipam-se

e sou árvore,

sou folha,

sou erva,

sou vento...

Sou gota de orvalho suspensa na flor.

Sou sombra, sou luz, sou nuvem que passa.

Sou ave que voa até às estrelas,

e entre elas vagueio

ao ritmo dos sons

do amanhecer…


in «A Hora do Lobo» © Josefina Maller

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

OS DIAS QUE PERDI... NA MARGEM...



Passa o vento...

E com ele leva os meus dias

Perdidos entre as sombras da vida.

Fico na margem,

Entre o arvoredo despido,

Aguardando

Que o vento retorne, e me devolva os dias que

No seu sopro arrastou...

...

Regressa o vento...

Vejo-o passar, apressado.

E os meus dias?

Pergunto.

Não me responde, o vento.



Só então me apercebo de que

Os perdi para sempre, os dias...

Enquanto ali me deixei ficar,

Sentada na margem,

Entre o arvoredo despido,

Esperando que o vento

Me devolvesse os meus dias perdidos

E o alento

Que no seu sopro arrastou...



Texto e Foto © Josefina Maller

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

MELANCOLICAMENTE AS MIMOSAS FLORIRAM...



Naquele domingo,

a chuva molhava

a paisagem...



Melancolicamente,

as mimosas floriram

colorindo a

tempestade

medonha

que fustigava

os seus ramos...


E eu,

enternecida,

deixei-me embalar

pelo vento

salpicado de

pequeninas flores

amarelas...


© Josefina Maller



terça-feira, 13 de julho de 2010

CAEM AS SOMBRAS DO ALTO DOS MONTES…



A árvore escuta o vento que, enfunado numa vela feita de trapos, habita num velho veleiro ancorado na margem.


A árvore escuta e cala.
O vento, enfurecido, por uma qualquer razão desconhecida, uiva, ruge, assobia, agita-se e agita as águas límpidas da Lagoa.

Uma garça cor-de-rosa tenta equilibrar-se, com elegância, na margem onde a árvore escuta o vento, e o veleiro aguarda que as águas o libertem.

Apesar de todo este tumulto, uma estranha quietude envolve o lugar.

Escondidos entre a folhagem, que a árvore lança para o chão, uns olhos espreitam. Uns olhos grandes e negros, profundos e melancólicos, que olham a agitação do lugar, com assombro.

A Lagoa é o seu mundo. A sua vida. O seu refúgio. O seu lugar de ser e de estar. Porquê esta metamorfose? Pela primeira vez, o vento, enfunado nas velas rasgadas do veleiro, invade os seus domínios. Sem cerimónia. Sem pedir licença. Com que direito? Nada parece fazer sentido. Há tanto tempo que aquele lugar é só seu! Só seu. E agora terá de o repartir, assim, deste modo tão inesperado e turbulento?

Uma ave misteriosa cruza os céus, e o seu voo reflecte-se nas águas claras e agitadas da Lagoa, nelas flutuando como um vulto fantasmagórico.

Caem as sombras do alto dos montes (1) sobre as pedras silenciosas que habitam este lugar, desde sempre. Aqui, os sonhos são deslumbramentos eternos como o próprio tempo. A estranha ave lança um gorjeio desatinado. Dá voltas e mais voltas ao redor da Lagoa.

Elegantemente, a garça cor-de-rosa continua o seu passeio, na margem, indiferente ao rebuliço do vento. Algo se passa. Mas o quê? O quê?...

Os olhos espreitam. Ainda. A árvore escuta e continua a lançar a sua folhagem avermelhada para o chão. O silêncio, que até então ali habitava também, é rasgado pelo uivo do vento. As sombras agitam-se. De onde virão as sombras? O que as agitará? O medo? O medo é redondo e vem vindo num turbilhão ilusório. A árvore, que escuta, não fala mas sente. Está triste. Nota-se a sua tristeza na ramagem que se verga até ao chão, onde continuam a espreitar aqueles olhos grandes e negros, profundos e melancólicos.

Subitamente, o vento emudece. A ave misteriosa abandona a Lagoa. A garça cor-de-rosa estende as suas asas magníficas, e parte também...

É então que o Outono se mostra, esplendoroso.

E são os olhos do entardecer que o acolhem, com melancolia…



(1) Cadunt altis de montibus umbrae – Pôs-se o Sol; é noite; anoitece (locução latina).

in «OS DIAS DE JOSÉ – e Outras Narrativas» © Josefina Maller (a aguardar publicação)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

CANÇÃO DO VENTO E DA MINHA VIDA



(Um tributo a Manuel Bandeira, grande poeta brasileiro)



O vento varria as folhas,

O vento varria os frutos,

O vento varria as flores...

E a minha vida ficava

Cada vez mais cheia

De frutos, de flores, de folhas.



O vento varria as luzes,

O vento varria as músicas,

O vento varria os aromas...

E a minha vida ficava

Cada vez mais cheia

De aromas, de estrelas,

De cânticos.



O vento varria os meses

E varria os teus sorrisos...

O vento varria tudo!

E a minha vida ficava

Cada vez mais cheia

De tudo.

Manuel Bandeira

(Origem da imagem: http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/literatura/manuel_bandeira/imagens/retratoManuelBandeira.jpg

quarta-feira, 31 de março de 2010

O VENTO UIVA NA SERRA...



O vento uiva na serra...


O que dirá o vento?


Vem, vento, vem...

Diz-me os teus segredos,

para que possa transformar-me em vento também,

e correr pelos campos

e sobrevoar o mar,

varrer as searas e as nuvens,

e lá do alto, ver o mundo com olhos de espanto...

Vem, vento, vem...

Traz-me a tua força

para que possa carregar o mundo para a outra margem,

lá, onde a luminosidade não cega,

onde as flores crescem selvagens,

e eu posso caminhar descalça...

Vem, vento, vem...

Deixa-me sentir a tua face inconstante,

leva-me daqui,

transporta-me para onde quiseres, como uma poeira...

O que sou senão poeira...?

Vem,

canta-me as tuas melodias,

deixa-me voar também...

quinta-feira, 11 de março de 2010

SONATA EM FUGA...



Fujo do vento
que fustiga a minha melodia
ainda inacabada.

Fujo do tempo e
das madrugadas
do meu desencanto.

Fujo da cotovia
cujo canto enfeitiça
o meu querer.

Fujo das vozes
que no meu ser
gritam o desespero.

Fujo da noite
que me envolve em sonhos
impossíveis de sonhar.

Fujo de mim
morrendo lentamente
desde o dia em que deixei
o cálido ventre de minha mãe...

...

Ó vento, segue o teu rumo
e deixa-me a sós com a minha melodia!

Ó tempo, pára por um instante
e devolve-me as madrugadas que foram minhas!

Ó cotovia, liberta-me do teu canto
e quebra o feitiço que a ti me prende!

Ó vozes, parai de gritar
para que eu ouça apenas o meu silêncio!

Ó noite, adormece-me em ti
ou então deixa-me partir,
porque perdi o momento de existir
e preciso de voltar ao cálido ventre de minha mãe...

segunda-feira, 1 de março de 2010

DESENCANTO...



A noite veio e trouxe o silêncio…

As estrelas vieram e cintilaram no céu…

A Lua veio e iluminou os caminhos…

O vento veio e soprou de mansinho…

A chuva veio e humedeceu as campinas…

As aves vieram e cantaram baixinho…


Vieram depois os sonhos, os medos, os segredos…

Vieram até os anjos de uma corte celeste…


Só tu não vieste…

sábado, 30 de janeiro de 2010

SOU NUVEM QUE PASSA...



A noite veio


envolta em sonho,

e eu sonhei...

...

Amanhece agora

e eu vou embora

não mais voltarei.

Porque

sou ar

sou vento

sou nuvem

que passa

ligeira,

não posso ficar...