O Lobo, lindo, de pelagem cinzenta e olhar profundo, solitário e triste, cabeça baixa, caminha, cambaleando, pisando a folhagem, na minha direcção.
Os seus olhos tristes, feridos de morte, olham-me, com desespero.
Eu sei, ele sabe, a morte está perto.
De súbito, solta um longo e doloroso uivo, que soou em toda a floresta como uma despedida.
O Lobo estremeceu... Eu estremeci...
Conduzi-o até uma gruta, escondida entre abetos, e ali, no abrigo da folhagem, exalou o último suspiro, nos meus braços, que o abraçaram fortemente...
– Vai, Lobo, vai...
Leva contigo o meu coração despedaçado e as minhas lágrimas...
A tua vida foi uma constante luta pela sobrevivência, no mundo onde manda o homem. Que mal fizeste tu para que ele te assassinasse?
Mal nenhum, eu sei.
Tu partiste, Lobo. Para onde?...
Como posso saber?...
Só sei que nesta floresta, na
nossa floresta, permanecerá a tua honestidade de Lobo e a nossa amizade, em cada madrugada que vier...
Para sempre, Lobo...
Para sempre...
(Origem da imagem: Internet)
Salvé Josefina
ResponderEliminarOs nossos irmãos lobos realmente foram sendo dizimados pelo ser humano, incapaz de renovar laços paradisiacos ou pelo menos de diálogo.
Talvez no seu conto-poema pudesse, além do canto de cisne, deixar o lobo comunicar com os seus olhos e a sua mente, algo que esquecemos e não temos desenvolvido suficintemente mas que a Josefina alude referindo a amizade que havia entre ambos...
Nossos irmãos lobos, grande verdade, grande amor...
Longa vida a eles na Terra...
Tenho uma relação espiritual muito forte com os Lobos, que não sei explicar. O espírito do Lobo vive em mim. Neste conto-poema (como lhe chama) fiquei-me apenas pela sua morte. Mas tenho uma ficção para ser publicada com o nome «A Hora do Lobo» (um título que já existe por aí, mas o meu foi criado muito antes e a história não tem nada a ver com a outra)) onde permito ao Lobo exprimir-se de muitos modos. Lamento viver num país onde a Literatura está moribunda. Aguardo melhores dias para poder publicar a minha Trilogia das Horas.
ResponderEliminarNão direi que a Literatura está moribunda, mas sim muito influenciada por critérios economicistas e mediáticos... de tal modo que o melhor pode ficar inédito e o mais fraco vender-se com fartura ou como farturas...
ResponderEliminarFracturada vai a rota peregrinica ou galataica da Literatura de mais substância, pois vê-se excluída das miragens e multidões citadinas e apenas as poucas almas verdadeiras do deserto a ouvem ou procuram...
Não esmoreça, tempo virá em que será mais ouvida e lida, ou sobretudo publicada...
Mas, subtilmente, certamente que já o é, nas letras, palavras e sons ondulantes que percorrem as florestas e alegram lobos, cisnes e pássaros...
Há noites
ResponderEliminarque há luas e são sóis
Há noites
que há uivos e são canções
Há noites
que há dias de criação
Há noites
imprescindíveis
Há dias
que não...
Não sei o que dizer. Por vezes sinto-me peregrinar por esses abismos que o universo esconde, e no silêncio desses abismos encontro-me com todos os outros seres, não humanos, e transformo-me.
ResponderEliminarQuanto às letras, talvez, quando chegar o momento, faça como fez Eleutéria: destruo todos os meus papeis para que nada reste de mim.
Fico muito grata por estas visitas furtivas ao meu blog sonâmbulo.
Obrigada, misterioso Mário.
ResponderEliminarHá dias que não, sim...
Mas há dias que sim, não?...
Yin completa Yang...
ResponderEliminar...eu, noctívago, diria à laia de assentimento que há dias que parecem noites, mas, como disse Rostand...
“É à noite que é belo acreditar na Luz.”
...ou Silvio Rodríguez...
Yo digo que las estrellas
le dan gracias a la noche,
porque encima de otro coche
no pueden lucir tan bellas;
y digo que es culpa de ella
—de la noche— el universo,
cual son culpables los versos
de que haya noches y estrellas.
/...
http://www.youtube.com/watch?v=cDJ5pjcIfG8
...além de que só à noite se vêem os pirilampos...
ResponderEliminarAdoro a Noite, Mário. É misteriosa, diz-nos segredos impartilháveis; pode ouvir-se os burburinhos amorosos dos seres noctívagos...
ResponderEliminarÉ belo o que disse Rostand, e é verdade que só à noite se vêem os pirilampos, e podemos cantar para as estrelas, como Rodríguez. Houve um tempo, em que eu me empoleirava no telhado, à noite, e também cantava para as estrelas, e fazia serenatas à Lua, e os gatos vadios, que por ali andavam, ouviam-me...
Obrigada pela partilha da música.