Todo-poderoso Deus, quiseste tu que eu nascesse. Consentiste que eu vivesse. Deste-me um corpo, uma alma. Moldaste em mim uma natureza apaixonada, criadora, sensível. Concedeste-me o dom de raciocinar e discernir. Criaste no meu ser a emoção, os sentimentos. Fizeste-me, em suma, para amar.
Inventaste um mundo para nele eu viver. Imaginaste outros seres a mim semelhantes para que eu não me sentisse só. Ensinaste-me a lógica das coisas e da vida.
Foste tu que também inventaste o amor.
Tu, todo-poderoso Deus, senhor de todo o universo, criador do céu e da Terra! Tu que fizeste brotar as flores nos verdes prados e nas solitárias planícies e nas colinas e nos vales profundos, criaste também o Sol e as estrelas. Tu, todo-poderoso Deus, inventaste um paraíso terrestre para nele viver o homem, que fizeste à tua imagem. Foste também tu que me criaste a mim. Lembraste?... Sou uma das tuas criaturas. Inundaste-me de amor, de ternura, de carinho. Foste tu a luz do meu caminho!
Ó Deus! Como amo as coisas que criaste para mim! Como amo todos os teus seres! Como sinto a tua presença nos prados cobertos de florzinhas amarelas; na imponência das árvores; na suavidade do voo dos pássaros; na magia do mar, ou de um rio correndo por entre o arvoredo esquivo!
Ó todo-poderoso Deus, porque fizeste de mim uma sonhadora? Unindo os conhecimentos que de ti recebi ao que tu criaste para meu conforto, concluo que não podes condenar-me por buscar a felicidade. (Mas será a felicidade uma invenção tua, ou uma mentira do homem?) Onde posso eu encontrá-la?...
Não quiseste dar-me um companheiro que olhasse os lírios dos campos da parábola de Cristo, tal como eu os olho! Não consentiste que eu tivesse um amigo que compreendesse a natureza apaixonada que moldaste em mim! Não permitiste que nenhum homem me olhasse para além da mulher que sou! Não me julgaste merecedora de um amante que saciasse o corpo que me deste. Então porque puseste Horácio e Raimundo no meu caminho?...
Juliana
In «ERA O MÊS DE MAIO...», de Josefina Maller (ainda por publicar)