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terça-feira, 16 de março de 2010

MONÓLOGO COM DEUS



Todo-poderoso Deus, quiseste tu que eu nascesse. Consentiste que eu vivesse. Deste-me um corpo, uma alma. Moldaste em mim uma natureza apaixonada, criadora, sensível. Concedeste-me o dom de raciocinar e discernir. Criaste no meu ser a emoção, os sentimentos. Fizeste-me, em suma, para amar.

Inventaste um mundo para nele eu viver. Imaginaste outros seres a mim semelhantes para que eu não me sentisse só. Ensinaste-me a lógica das coisas e da vida.

Foste tu que também inventaste o amor.

Tu, todo-poderoso Deus, senhor de todo o universo, criador do céu e da Terra! Tu que fizeste brotar as flores nos verdes prados e nas solitárias planícies e nas colinas e nos vales profundos, criaste também o Sol e as estrelas. Tu, todo-poderoso Deus, inventaste um paraíso terrestre para nele viver o homem, que fizeste à tua imagem. Foste também tu que me criaste a mim. Lembraste?... Sou uma das tuas criaturas. Inundaste-me de amor, de ternura, de carinho. Foste tu a luz do meu caminho!

Ó Deus! Como amo as coisas que criaste para mim! Como amo todos os teus seres! Como sinto a tua presença nos prados cobertos de florzinhas amarelas; na imponência das árvores; na suavidade do voo dos pássaros; na magia do mar, ou de um rio correndo por entre o arvoredo esquivo!

Ó todo-poderoso Deus, porque fizeste de mim uma sonhadora? Unindo os conhecimentos que de ti recebi ao que tu criaste para meu conforto, concluo que não podes condenar-me por buscar a felicidade. (Mas será a felicidade uma invenção tua, ou uma mentira do homem?) Onde posso eu encontrá-la?...

Não quiseste dar-me um companheiro que olhasse os lírios dos campos da parábola de Cristo, tal como eu os olho! Não consentiste que eu tivesse um amigo que compreendesse a natureza apaixonada que moldaste em mim! Não permitiste que nenhum homem me olhasse para além da mulher que sou! Não me julgaste merecedora de um amante que saciasse o corpo que me deste. Então porque puseste Horácio e Raimundo no meu caminho?...

Juliana

In «ERA O MÊS DE MAIO...», de Josefina Maller (ainda por publicar)

5 comentários:

  1. Salvé Josefina
    A busca da felicidade é a busca de Deus incarnada em nós e à nossa volta. Mas para chegar ao cimo da montanha e aí contemplar a rosa infinita do Amor há toda a dificuldade da subida com os seus espinhos, desilusões e desvios.
    Belíssima oração a Deus inicial, mas não O culpemos do que é da responsabilidade dos espíritos humanos, tão envoltos ainda na ignorância e trevas, no egoísmo e na insensibilidade.
    O corpo que Deus lhe deu, esse sim vai sendo recuperado e fortalecido com todas as experiências porque vai passando, e certamente que os erros, os sofrimentos, as desilusões mais nos vão fortificando na sede da verdade e do infinito, que por si perpassa tão luminosamente...
    Seja então bem feliz na sua aspiração a Deus dentro de si, ou na gratidão pela presença divina no mundo que nos envolve...

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  2. Muito obrigada, Pedro, pela sua visita ao Galatea e pelas suas palavras. Estou bem precisada de que alguém me fale destes caminhos insondáveis. Deus vive em mim. Deus não é para acreditar, mas para sentir. E eu sinto-o. Por vezes foge de mim ou eu dele. Perco-me, então. Porém, volto a reencontra-me Nele, dentro de mim.

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  3. Salvé Josefina!
    Eu é que agradeço o seu belo espaço e ainda por cima com uma música tão cativante e harmoniosa, que se pode ouvir horas e horas...
    Vou então dialogar consigo e os seus textos, ao sabor dos ventos, melodias e graças que nos atravessam subtilmente, e tentaremos fazer um pouco mais de luz nos afloramentos da Grande Realidade e dos seus caminhos dificilmente sondáveis ou doutrináveis mas, como diz, sensíveis e vivenciáveis...

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  4. Obrigada, Pedro. Talvez pela minha condição de nefelibata, à qual sou totalmente alheia, perco-me nos labirintos da vida. Quando encontro a saída, essa saída, por vezes, emboca noutro labirinto. E ando assim...
    Também gosto da música do Yanni. Eleva-me para lugares que existem apenas na minha imaginação. Fecho os olhos e deixo-me levar nas asas do vento que vai passando...

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  5. Salvé Josefina.
    Pois o nefelibata soara-me a uma postura de inadapatação a esta vida por um excesso de sensibilidade. Mas nosso lídimo e incansável trabalhador José Pedro Machado remeteu-me para um dos últimos humanistas e e peregrinos do gai savoir, Rabelais.
    Óptimo, já que não se encontra ou edifica facilmente a abadia telesmica, fiquemos então na peregrinação e errância, qual nuvem, vento ou ave em busca ou em circumbalação da grande árvore eixo do mundo, Deus, Amor, Espírito, Unidade

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