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domingo, 18 de abril de 2010

O CISNE



(das lendas: Cisne. H. 13 v.)


O cisne dobrou o flexível pescoço para a água e viu-se reflectido.

Então, de repente, compreendeu a razão da sua fraqueza e daquele frio que lhe atazanava o corpo fazendo-o tremer como de Inverno: e sem qualquer dúvida soube que a sua hora havia soado e que precisava de se preparar para a morte.

As suas penas eram ainda brancas como no seu primeiro dia de vida. As estações e os anos tinham-se passado sobre ele sem lhe manchar as vestes imaculadas; podia pois desaparecer, concluir em beleza a sua existência.

Erguendo o belo colo, dirigiu-se lenta e solenemente para debaixo de um salgueiro, onde costumava repousar durante o calor. Era quase noite. O ocaso estava agora tingido de púrpura e a água do lago tinha o tom violeta.

E no grande silêncio que havia em tudo, o cisne começou a cantar.

Até aí, nunca encontrara acentos tão plenos de amor pela Natureza, pela beleza do céu, da água e da terra. O seu canto dulcíssimo espalhava-se no ar, velado de nostalgia, até que, pouco a pouco, se foi extinguindo conjuntamente com a derradeira luz do horizonte.

– É o cisne – disseram comovidos os peixes, os pássaros, todos os animais do prado e do bosque – é o cisne que morre.


in «Fábulas e Lendas – contadas e escritas por Leonardo da Vinci no seu tempo» - Edição da Editorial Futura/1974, com tradução de Virgílio Martinho

(Origem da imagem: Internet)

5 comentários:

  1. Sim, cisnes, galateias, colos, cantos, lágrimas, a morte, o evolar-se para o infinito, tudo ondula em nós, na nossa psique, tão antiga como a noite dos tempos, donde emanam os jorros que Leonardo Vinci debuxou nestes contos.
    Sem ter lido a fábula dele, já a conhecia. Tal como a conheceria Josefina quando, em certos momentos da noite ou da sua criatividade, lança o último grito ou canto, ou clarão, para depois ter de emudecer, apagar o fogo e ir dormir, para não dizer morrer...
    Sabia eu já que a expressão canto de cisne alude a essa possibilidade do cisne ter uma previsão da hora da sua morte e assinalá-la com o mais belo ou sentido clarão que consegue, comovendo tudo à sua volta se não mesmo a alma mundi...
    Assim fosse com os seres humanos: que tivessem a antevisão e que conseguissem ter um vestido nupcial flamejante através do qual o "sermo" último deles incendiasse os que os acompanhassem nos momentos finais, ou mesmo a noite e as trevas do medo da morte e do além...
    Cisnes, Josefina, há anos que vou tentando estar atento ao seu aparecimento, real, iconológico ou onírico, tentando aprender ou apenas ser com eles...
    Assim agradeço-lhe ter-me presenteado com este pequenino canto vinciano, que no seu profundo e galataico blogue até sabe a pouco, levando mesmo a pensar que talvez haja pouca originalidade da parte do nosso genial Leonardo...
    Sabia que o Erasmo refere também o canto de Cisne na sua obra mais de uma vez, e em especial aplicando-o à vida pura e morte gloriosa de Jean Vitrier, um franciscano humanista e místico, bem como à dos seus discípulos que, chegados à hora da morte, sabiam desferir o canto de cisne, testemunhado na alegria com que partiam para o outro mundo...
    Transcrevi esse passo da biografia de Vitrier, no "Modo de Orar a Deus", dele, que comentei.

    Cisnes, como os seu cavalos, ou os seus poemas ardentes, elevados na Índia à condição de representarem os mais elevados estados de consciência: em sânscrito são os "Hansa", e diz-se que sabem discriminar o leite da água, ou o bem e o mal. Daí que os grandes yogis ou mestres espirituais são chamados os Paramahansa, os supremos Cisnes...
    Hansa (com pequenas variações sonoras...) que é também o nome da respiração interior, o som que a inspiração e a expiração produzem dentro de nós, e que se observados e aprofundados nos tornam hansas, cisnes, brancos, lúcidos,direi eu capazes de voar até aos cimos nevados dos Himalaias das almas e aí, fazerem ninho e receberem e conviverem com os anjos ou as bênçãos divinas?
    Cisnes serenos nos lagos e tecto do palácio de S, ou em alguns poucos jardins ou almas (sobretudo galataicas...) de Portugal, mas que bem deveriam ser cultivados, voados, cavalgados, amados por todos nós, para que as nossas penas se tornem mais alvas e luminosas, e nos permitam assim subir e comungar no "amrita", ambrósia ou leite celestial da Via Láctea, que muito desejo que esteja sempre descendo sobre si e a sua criatividade...
    Consigo, neste voo de cisne, simplesmente ainda razante às águas, mas invocando certamente o espírito que paira ou se infunde nelas, nele e em nós...

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  2. Um belo texto, dentro de outro texto, igualmente belo. As Lendas de Da Vinci são pequeninas. Com o essencial diz tudo. Obrigada por estes momentos tão sábios. Gosto de aprender com quem sabe. E o Pedro sabe coisas que eu não sei. Obrigada por partilhá-las comigo.

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  3. Olá,
    Gostei muito do texto assim como da musica, linda.
    Qual é o nome e autor dessa música?
    abraço

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  4. Olá Andreia!

    Obrigada pela visita ne pela gentileza das suas palavras.

    O autor da música é Yanni, e o tema chama-se One Man's Dream.
    Também gosto muito.

    Um abraço.
    Josefina

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  5. Oi Josefina, sou eu denovo.
    Não sei se vc curte meditação, eu estava procurando na net algumas estórias ou lendas sobre o cisne, pois ele representa o Hansa Chakra, e foi qdo me deparei com seu blog.
    Eu pratico Sahaja Yoga e todas as quintas tem meditação on line, se vc estiver afim...

    Nesta quinta-feira, 11/11/2010, às 21h, vamos rever em vídeos duas importantes técnicas usadas para facilitar nossas meditações e, principalmente, para nos dar proteção: o "elevar a Kundalini" e o "fazer Bandhan".

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    abraço

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