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terça-feira, 21 de junho de 2011

«SOLAR DAS ILUSÕES»


Nos meus tempos de estudante de Coimbra, residi num pequeno quarto, nas águas-furtadas de uma República que, ironicamente, tinha o nome de «Solar das Ilusões» (casa da foto). Nome escrito em letras pretas, numa tabuleta de madeira, pendurada na parede da sala que servia de refeitório a 14 jovens estudantes.

Na verdade, quantas ilusões ali germinaram! E quantas, mais tarde, a vida fez murchar!...

A pequena janela do meu quarto, nas traseiras, dava para o telhado do velho casarão cor de tijolo, de uma arquitectura que fazia lembrar um bolo de noiva de três andares.

Era nesse telhado que costumava sentar-me, à sombra dos ramos de uma frondosa árvore, que, da casa vizinha, se debruçava sobre a “minha” janela.

Era aí que estudava, lia ou fazia as minhas serenatas aos gatos dos telhados vizinhos e às luzes da cidade.

No Penedo da Saudade ou no Choupal, cantava para as flores, para as árvores, para as águas do Rio Mondego e para as amigas e amigos que costumavam seguir os meus passos.

As então ruínas do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, numa das margens do Rio, abrigavam-me, quando precisava de estar só comigo mesma, ou de ouvir o silêncio que vinha das velhas pedras, para me reencontrar.

Foram tempos autênticos. Espontâneos. Reais. Tempo de ilusões. Só minhas.

Josefina Maller

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