Nos meus tempos de
estudante de Coimbra, residi num pequeno quarto, nas águas-furtadas de uma
República que, ironicamente, tinha o nome de «Solar das Ilusões» (casa da foto). Nome escrito
em letras pretas, numa tabuleta de madeira, pendurada na parede da sala que
servia de refeitório a 14 jovens estudantes.
Na verdade, quantas ilusões
ali germinaram! E quantas, mais tarde, a vida fez murchar!...
A pequena janela do meu
quarto, nas traseiras, dava para o telhado do velho casarão cor de tijolo, de
uma arquitectura que fazia lembrar um bolo de noiva de três andares.
Era nesse telhado que
costumava sentar-me, à sombra dos ramos de uma frondosa árvore, que, da casa
vizinha, se debruçava sobre a “minha” janela.
Era aí que estudava, lia
ou fazia as minhas serenatas aos gatos dos telhados vizinhos e às luzes da
cidade.
No Penedo da Saudade ou
no Choupal, cantava para as flores, para as árvores, para as águas do Rio Mondego
e para as amigas e amigos que costumavam seguir os meus passos.
As então ruínas do
Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, numa das margens do Rio, abrigavam-me, quando
precisava de estar só comigo mesma, ou de ouvir o silêncio que vinha das velhas
pedras, para me reencontrar.
Foram tempos autênticos.
Espontâneos. Reais. Tempo de ilusões. Só minhas.
Josefina Maller
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