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terça-feira, 26 de abril de 2011

O CHARCO...

O dia esmorecia.
O fim de tarde chegou chuvoso. Na vala comum, onde se sepultavam os indigentes, havia ficado um homem, que não coube na sepultura da família, guardada por um anjo de pedra, que sorria levemente, e onde já estavam os seus pais e os pais dos seus pais. Contudo, era demasiado pequena para o seu corpo grande.

Nada correu bem, naquele funeral. À dor da partida, juntou-se a dor de ver ficar um ente querido num lugar que não lhe pertencia.
Saímos do cemitério com lágrimas que se confundiam com os pingos da chuva que caía...

“Rain and tears are the same...» Cantei baixinho…
Do lado de fora do cemitério, formaram-se poças de água.

Numa delas, reflectiam-se os ramos de uma árvore sem folhas.
Era Inverno. Chovia.

Decidi aprisionar para sempre, nas águas do charco, aqueles ramos tristes, em memória daquele que por ser um homem grande, não coube na sepultura que devia ser a sua.
© Josefina Maller

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