© Todos os direitos reservados

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A FLOR CAÍDA...



As flores do meu jardim murcharam


As águas dos rios secaram

Os pássaros emudeceram

Os raios do Sol recuaram

As trevas cobriram a Terra...

Algures começava uma guerra, e o ódio e a fome dominaram aquela parte do mundo, ocultando a vida debaixo de um fosso profundo...

E uma criança chorou, fugiu, gritou...
E por fim, na terra fria tombou, de morte ferida...

Ao olhar para aquela flor caída,
abominei a abominável criatura que a fez tombar...

sábado, 20 de fevereiro de 2010

JOSÉ SARNEY, O POETA...



Poucos serão aqueles que saberão que José Sarney é um grande poeta e escritor, para além de ter sido Presidente da República Federativa do Brasil.


Autor de vários livros, existe um que me é particularmente querido, porque fala de coisas que conheci; e de outras que quase vivi.

O livro intitula-se Os Maribondos de Fogo, publicado por ocasião da visita a Portugal de José Sarney, em Maio de 1986, era ele Presidente do Brasil.

Transcrevo aqui um dos poemas do livro, que me faz sentir o cheiro da terra. A ilustração, aliás, magnífica, é da autoria de Carlos Carreiro.

Este é meu preito a um Poeta que fala de coisas que poderia ter sido eu a escrevê-las, coisas da minha infância...



OS DONS DA TERRA



EU lembro

as coisas da terra,

as capineiras,

as folhagens,

a mamorana

o andrequicé,

as encostas de cana-roxa

e as vassouras de botão.



DE tudo eu guardei um pedaço

que existe no meu corpo.

A mamorana está com

flores e castanhas no chão.

O andrequicé murchou

e foi devorado nas noites

de cristais e luzes baças.

O cana-roxa foi colhido

e mãos duras o amassaram

com raiva

porque ele era suor e sangue.



MAS a vassoura de botão resiste.

Ela não é amor nem ódio.

Ela é a vassoura de botão e

suas raízes

se alimentam

na devoção de Deus e cascas de romãs.





terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

ENTRE O LIVRO E A LIBERDADE

Convocam-se todos os poetas, de todas as línguas, com uma pátria do tamanho do mundo, a enviar um, dois ou três poemas, para a instalação poética “Entre o Livro e a Liberdade”, que vai acontecer nos dias 23, 24 e 25 de Abril, 2010, no jardim da Avenida Júlio Graça, em Vila do Conde.
O Colectivo Silêncio da Gaveta, depois de a 21 de Março de 2009, dia Mundial da Poesia, ter colocado mais de 2000 poemas, em mais de duzentas árvores do jardim, traduzindo em seiva e fruto as palavras dos poetas, de cerca de duas dezenas de países, pretende este ano, com a colaboração da Nuvem Voadora, no mesmo jardim, fazer nascer entre as flores, as palavras dos poetas.

Nesta nova instalação poética os poemas erguem-se do chão, como girassóis à procura do leitor.

O colectivo agradece que o poema traga consigo o nome do autor e não ultrapasse uma folha A4, para que as palavras não se separem do mesmo cacho. Podem ser inéditos ou já editados. A convocatória pretende apenas os vossos poemas, os dos outros nós já temos.

Os poemas devem ser enviados para:

fontesnovas@hotmail.com

vasques.manuel@gmail.com

silenciodagaveta@gmail.com

A instalação poética “Dez Passos Depois das Árvores”, pode ser vista no blog:  silenciodagaveta.wordpress.com




segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

TERRA SECA...




Assim começa o futuro, erguido sobre uma terra seca.

O que é que ela tem para nos dar? Pergunta a criança quando começa a saber perguntar.
E a resposta é tão seca como essa terra onde a criança espera construir o seu futuro.
De quem será a culpa? Da terra porque é seca? Ou do homem porque a secou? Esse homem que se preocupa apenas em destruir a vida… Não pense ele que essa sua força perdurará e o manterá vivo e poderoso para sempre. Esse homem, que destrói o mundo com os seus excessos e as suas frivolidades.
E que valor tem uma vida morta? Se é apenas um monte de carne podre que serve de alimento aos vermes, os quais, desse modo, conseguem sobreviver nessa terra seca…
É aí que o poder desses vermes começa e acaba o do homem…
E assim se ergue o futuro sobre uma terra seca habitada apenas por vermes que esperam a carcaça do homem…
Esse homem que se recusa a reconhecer o valor da vida.

Terra seca! Vazia do homem! Vazia da vida! Entregue ao poder dos vermes…
E assim começa o futuro, erguido sobre uma terra onde só existirá restos de vidas mortas!...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O PRIMEIRO DIA...






Rajid era a obra-prima do Criador.

Nobre, de músculos fortes, perfil bem desenhado e sereno, o seu corpo negro, macio e brilhante contrastava com o verde da planície onde nascera. Os seus olhos de azeviche assemelhavam-se a duas estrelas a brilhar na noite.

Era meigo e suave como uma libelinha. Contudo, havia nele algo de agreste. Nasceu sem ter sido gerado. Nasceu livre e selvagem. Era filho da planície, mas também dos bosques, das florestas.

Como era belo e perfeito Rajid! O seu olhar profundo e penetrante fazia estremecer a natureza. E as flores, tímidas, só de olhá-lo, tornavam-se mais coloridas.

O primeiro dia de vida na Terra havia começado para o cavalo selvagem e para todos os outros seres, que experimentavam a maravilhosa sensação de fazer parte de um mundo harmonioso e perfeito. Todos sentiam a mesma curiosidade acerca da sua própria existência e do que os cercava. Estavam como que enfeitiçados pela grandiosidade do momento que acabavam de viver.

Rajid não escapou ao feitiço, e espreguiçava o olhar, extasiado, pela planície salpicada de pequenas flores.

Do outro lado, o bosque, com as suas cúpulas verdes, era um desafio à sua imaginação. Teria toda uma vida para desvendar os seus mistérios.

Naquele momento, o vale, envolto em bruma, prendia a atenção de Rajid, mais do que tudo o resto.

in «História de um Cavalo Selvagem» © Josefina Maller (a aguardar publicação)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

SEMEANDO UMA FLOR...



A flor nasce para colorir a tristeza do homem…


Mas a vida da flor é efémera, assim como efémera é a alegria do homem…

Porém, mais vale a felicidade breve do que a tristeza perene…

Semear uma flor, para colorir a tristeza do homem, é um acto de amor…

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

ROSA LOBATO DE FARIA (IN MEMORIAM)



MELANCOLIA...

Melancolicamente

o Sol rasgou

o ventre dormente

da manhã...


E as rosas de Maio

não puderam florir...



terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

EARTH SONG (MICHAEL JACKSON)


Quando pela primeira vez vi e ouvi o vídeo sobre Earth Song, de Michael Jackson, senti-me completamente esmagada pela mensagem enorme contida nesta belíssima melodia.

Comungo totalmente das preocupações de Jackson, até porque a Terra também é o Planeta onde vivo, e fere-me profundamente todo o mal que os homens (alguns homens) estão a praticar contra o único lugar, o único, onde têm possibilidade de viver. E como são irresponsáveis, esses homens!

O grito de Michael Jackson é um grito saído do interior da própria Terra, como se ela, através dele (que conhece as palavras), quisesse enviar ao homem um S.O.S., ou talvez um aviso.




Ainda haverá tempo?



Que acontecerá ao nascer do Sol? Que acontecerá à chuva? Que acontecerá a todas as coisas que são do homem?...

 
Porquê os campos da morte? Alguma vez pararam para pensar em todo o sangue que já derramaram? Alguma vez pararam para reflectir na matança de crianças, em guerras insanas? Alguma vez pararam para ouvir o meu grito, o grito da Terra, e o pranto dos mares?

 
O que estais a fazer ao vosso mundo? Olhai à vossa volta.



O que fareis com a Paz que prometestes aos vossos filhos? O que acontecerá aos campos em flor? O que fizeram com todos os vossos sonhos?

Ainda haverá tempo?



Vós, homens, costumáveis sonhar; costumáveis olhar para além das estrelas... Agora não sabeis onde estais, embora intuís que fostes demasiado longe...



O que fizestes com o passado? O que fizestes com os mares? Os céus estão a cair; os homens não podem respirar. O que fizeram com tudo o que vos dei? O que fizeram com a riqueza da Natureza, que é o meu ventre, o ventre do Planeta que é vosso?



O que fizestes aos animais? O que fizestes aos elefantes? O que fizestes às baleias, que choram? Todos perderam a confiança em vós!


 Reduzistes os vossos reinos a pó. Estais a destruir os mares. Por que desapareceram os trilhos das florestas, apesar de todos os apelos? O que estais a fazer à terra sagrada, que despedaçais com crenças?



E quanto ao homem comum? Não podeis libertá-lo? O que fazeis diante das crianças a morrer? Não as ouvis gritar?



O que acontecerá aos dias e à alegria que neles existe?...



O que fazer com os homens e com o seu pranto?



O que dizer da Morte que está a invadir o Planeta?



Alguma destas coisas vos importa?...



segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

ON A BLUE ROAD (II)



Hoje despertei muito cedo, porque ouvi um choro estranho. Um choro que me pareceu sufocado, como se quem o chorasse não quisesse ser ouvido. Contudo, às vezes, mesmo não querendo, não podemos esconder o choro, porque ele solta-se como se tivesse vida própria e enrosca-se, como uma névoa, em quem o ouve.

O choro existe para ser chorado. Aprendi isto também com Sebastião. E o choro que hoje ouvi, logo pela manhã, ainda a Lua andava a cirandar no Céu – a expressão é de Sebastião, que gosta das palavras, por isso aprendeu as mais que pôde, durante a sua já longa vida; ele diz que não sabe muito bem a sua idade, mas já contou muitas, muitas Luas Cheias, uma infinidade de Luas Cheias, que dava para encher o mundo, se cada Lua fosse uma Lua; como é sempre a mesma, que isso também sabe Sebastião, não dá para encher o mundo; Sebastião não andou na Escola, mas aprendeu a ler e a escrever com um missionário chamado Frei Francisco Xavier, que também lhe ensinou Inglês e a canção On a blue road… – o choro que ouvi era um choro estranho…

Saí então da palhota e segui o rasto do choro, que não era um choro qualquer. Foi então que a vi, debaixo do embondeiro: uma cadela rafeira, com três filhotes já nascidos, e outro ainda dentro do seu corpo, com dificuldade para ver a luz do Sol. Aproximei-me com cuidado, dirigindo-me à cadelinha com delicadeza, como me ensinou Sebastião: Devemos ser delicados com os animais, porque eles olham-nos com benevolência – por desconhecerem a ferocidade dos homens – acrescentava a jeito de reprovação.
Ela olhou para mim, angustiada.

Fui a correr chamar Sebastião. Velho experiente. Viveu muito, viu muito, aprendeu muito. Sabia quase tudo sobre sobrevivência, ou não fosse ele um sobrevivente. Não é preciso universidades para nos ensinar as coisas da vida. Bastam as dificuldades. Aprendi isto também com Sebastião. Não há melhor escola do que a necessidade. Se quisermos manter o nosso corpo sobre as pernas, vamos buscar forças e conhecimentos ao fundo de abismos para continuarmos vivos. Viver é um instinto, diz Sebastião.

Por isso, com habilidade e delicadeza, ajudou a cadela a expulsar o cachorrinho que estava atravessado nas suas entranhas.

E como foi lindo ver soltar-se aquele ser; e como foram gratificantes as lambidelas com que a mãe, agradecida, mimoseou Sebastião. Acabámos por acolhê-los na nossa cabana. E foi assim que na minha vida entrou aquela que viria a ser a minha melhor e mais fiel amiga: a Josefina.

«On a blue road...» © Josefina Maller (a aguardar publicação)