Eu vi o menino nascer à beira do rio...
Eu vi o menino crescer nos becos da vida
Eu vi o menino ser abandonado na rua
Eu vi o menino sofrer ao ver a mãe caída no chão
Eu vi o menino nascer à beira do rio...
Eu vi o menino ser explorado
Eu vi o menino ser violado
Eu vi o menino esfomeado
Eu vi o menino a roubar pra comer
Eu vi o menino nascer à beira do rio...
Eu vi o menino na guerra
Eu vi o menino caído entre os escombros
Eu vi o menino ferido
Eu vi o menino a comer lixo
Eu vi o menino a beber água ao lado de um cão
Eu vi o menino nascer à beira do rio...
Eu vi o menino a definhar
Eu vi o menino a agonizar
Eu vi o menino a dirigir-se para o rio
Eu vi o menino morrer à beira do rio...
Eu vi o menino a ser devorado pelos abutres...
Eu vi...
O filme chamava-se “O Menino”...
O menino sem nome era o menino que eu vi nascer à beira do rio...
O menino que eu vi morrer à beira do mesmo rio...
Um menino que veio ao mundo, no nosso mundo...
Eu vi...
E agora que vi, sinto-me culpada: eu não estava lá...
Querida Jo, eles são tantos, tão míseros, que seria impossível estar a todos em suficiência.
ResponderEliminarEstar onde é possível, fazer o possível.
Estar e não olhar para outro lado.
Ver e não instalar os óculos de sol para não se perceber que, afinal, olhamos, mas pretendemos não ver e não podemos permitir que se saiba. Fazer.
Não somos Atlas. Não somos mitos.
Não somos deuses e esses, a existirem, têm afinal parco poder ou padecem de piedade insuficiente.
Só seremos culpados do mal que provocarmos conscientemente, jamais do bem que não nos alcançam os meios praticar.
Beijo
Mário
Obrigada, Mário, pela sua visita e pelo seu comentário.
ResponderEliminarTudo o que disse pode ser verdade e fácil de dizer. Mas dói-me esta impossibilidade, este não poder fazer nada, para mudar as coisas.
Sim, não provoco o mal, mas de que me adianta, se o mal me rodeia e me faz mal?...