As nuvens, espessas e apressadas, chegam e atravessam o ar, carregado de escuridão e energias, ocultando o Sol, no seu Olimpo.
Assobia o vento, colérico, entre o casario. Brilhos fugazes rasgam os céus e os trovões ecoam, aterradores. As águas, cativas, saturadas do seu destino, lançam-se do espaço, transformadas em cataratas de chuva que, num ápice, das ruas fazem rios.
Nos jardins, as árvores dançam a dança do vento passageiro, que vem e não fica. A folhagem, humilde e insegura, desgarra-se dos troncos e cai, juntando-se às pequenas e delicadas flores que, esmagadas pela força da chuva, se desfazem num húmus, fecundo e perfumado. Um cheiro a terra húmida levanta-se do chão e entranha-se na cidade.
Inicia-se a batalha dos deuses contra os titãs. Uns e outros poderosos. E o mais poderoso de todos, o Grande Espírito, desce dos céus para reinar sobre a Terra, numa fugaz tempestade, porque é preciso lembrar aos homens de que há uma Natureza mais forte do que o frágil poder deles.
Por detrás das vidraças, olhos assombrados espreitam o desconcerto da tormenta que se abate sobre a cidade.
O dia faz-se noite. Nas ruas desertas, correm águas revoltas e barrentas. O vento, que é invisível, mostra-se agora, distintamente, no torvelinho que desce a rua. Rasgando os céus, cintilam os lumes provocados pela colisão das nuvens que, espessas e apressadas, continuam a atravessar o ar, e troadas tenebrosas dilaceram a inquietude das almas, nelas se instalando um medo indizível.
Todavia, não temeria sempre o homem tudo o que desconhece ou não pode controlar?
...
Lentamente, quase imperceptivelmente, o Grande Espírito abandona a Terra, deixando os homens com a fraqueza deles.
Deuses e titãs regressam às infinitudes do Universo.
As águas esgotam-se, na sua nascente.
As nuvens, espessas e apressadas partem, levando-as o vento, passageiro, que veio e não ficou.
A cidade, ainda molhada, abre-se novamente para o dia.
Depois das nuvens, Febo…(1) particularmente fulgurante...
(1)
Post nubila Phoebus – Depois das nuvens, Febo (o Sol); depois da tempestade a bonança (locução latina).
in «
Os Dias de José... e outras Narrativas» (a aguardar publicação)
Texto e foto © Josefina Maller
Belo, isto. E então, como vai o Outono?
ResponderEliminarSaúde.