Quanto a mim gosto das palavras que sabem a terra, a
água, aos frutos do Verão, aos barcos no vento; gosto das palavras lisas como
os seixos, rugosas como o pão de centeio.
Palavras que cheiram a feno e a poeira, a barro e a
limão, a resina e a sol. Foi com essas palavras que fiz os poemas.
Palavras rumorosas de sangue, colhidas no espaço
luminoso da infância, quando o tempo era cheio, redondo, cintilante.
As palavras necessárias para conservar ainda os olhos
abertos ao mar, ao céu, às dunas, sem vergonha, como se os merecesse, e a
inocência pudesse de quando em quando habitar os meus dias.
As palavras são a nossa salvação.
Eugénio de Andrade