domingo, 3 de fevereiro de 2013
sábado, 2 de fevereiro de 2013
NÃO SEI QUEM SOU, QUE ALMA TENHO...
Não sei quem
sou, que alma tenho.
Quando falo
com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que
um eu que não sei se existe (se é esses outros).
Sinto
crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção
sobre mim perpetuamente me aponta traições de alma a um carácter que talvez eu
não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me
múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para
reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em
todas.
Como o
panteísta se sente árvore [?] e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me
viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de
todos os homens, incompletamente de cada [?], por uma suma de não-eus
sintetizados num eu postiço.
Fernando Pessoa
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
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