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sexta-feira, 24 de junho de 2011

PARA REFLECTIR...



A vida é breve, a arte é longa, a ocasião fugidia, a experiência enganosa, o julgamento difícil (Hipócrates)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

À HORA EM QUE OS PÁSSAROS ADORMECEM...



O Sol era o mesmo. O jardim era o mesmo. O roseiral era o mesmo. Farinelo continuava igual a si mesmo. Apenas Oskar já não era o mesmo, tal como aquela camélia branca, que sendo semelhante a todas as outras que já ali floresceram, era uma outra camélia. Oskar acabava de regressar de uma vivência que nem sequer tinha a certeza se fora real. Depositado num jarro de cristal, com água a cobrir-lhe a haste, tão viçoso como na primeira vez em que o viu na posse do Lobo Cinzento, o arbusto-do-lobo lá estava, em cima da mesa de pedra, situada numa das extremidades do jardim, junto da adega, que emanava um aroma de frutos secos: ameixas, pêssegos, uvas…

A presença desta outra rosa, no jardim de Matilde, era a prova de que algo, na verdade, acontecera. Mas o quê? Oskar precisava, urgentemente, de decifrar aquele enigma, de outro modo, enlouqueceria. Teria sido um sonho? Os sonhos são fantasias, reflexos do imaginário. Nos sonhos não se colhem flores verdadeiras. Não, não poderia ter sido um sonho. Na verdade, Oskar partira para algures, à hora em que os pássaros adormecem, numa certa tarde. E numa outra tarde, também à hora do entardecer, regressou desse mundo estranho, possivelmente imaginário, provavelmente real...

Excerto d’ «A Hora do Lobo» © Josefina Maller

(O arbusto-do-lobo, também conhecido por rosa-albardeira, desempenha um papel importante na saga de Oskar Kapriolo, cujo futuro depende do que ele fizer com esta belíssima flor).

POR ONDE ME LEVARÃO MEUS PASSOS?...




Por onde me levarão meus passos...?

Que caminho será este...?

Vejo o vazio no chão

E a dúvida instala-se:

Devo seguir ou ficar?...

Josefina Maller

ENCONTRO INESPERADO...



Era um lago de águas azuis, luminosas e tranquilas, entre montanhas, de neves eternas, um dos muitos que abundam no Tibete, tornando-o um lugar de peregrinação, mesmo para aqueles que em nada crêem.

O Sol mostrava-se, timidamente. Sentia-se o silêncio, naquele lugar, como o trinar misterioso de um pássaro. Pelas suas margens, pensativo, descalço, vagarosamente, caminhava um vulto, como se flutuasse. Dir-se-ia que fazia parte daquela paisagem, plácida e paradisíaca. De súbito, vergou-se sobre aquelas águas transparentes e contemplou o seu rosto, longamente.

Eu, que por ali também deambulava, um pouco perdida de mim e do mundo, aproximei-me. O vulto ergueu-se e fixou o seu olhar no meu. Os seus cabelos, escuros e longos, contrastavam com a túnica branca e larga que lhe chegava aos pés. Uma barba espessa moldava-lhe um rosto muito belo, de uma idade sem idade. Dir-se-ia que eterna. Os olhos, serenos e melífluos, de um castanho claro, profundos como um oceano, reflectiam a luz da manhã e o infinito...

 Excerto de «AS LÁGRIMAS DE DEUS» © Josefina Maller (por publicar)

«A HORA DO LOBO»



Hoje fui surpreendida na rua por uma Professora que leu «A Hora do Lobo» e veio dar-me um abraço, e dizer-me que gostou muito do livro, pela filosofia de vida que nele encontrou. E depois perguntou-me: o Oskar Kapriolo é a Josefina? Limitei-me a sorrir. Mas fiquei muito feliz por aquela leitora ter captado a mensagem do Lobo. Não, não sou filósofa. Mas o Lobo é.

terça-feira, 21 de junho de 2011

«SOLAR DAS ILUSÕES»


Nos meus tempos de estudante de Coimbra, residi num pequeno quarto, nas águas-furtadas de uma República que, ironicamente, tinha o nome de «Solar das Ilusões» (casa da foto). Nome escrito em letras pretas, numa tabuleta de madeira, pendurada na parede da sala que servia de refeitório a 14 jovens estudantes.

Na verdade, quantas ilusões ali germinaram! E quantas, mais tarde, a vida fez murchar!...

A pequena janela do meu quarto, nas traseiras, dava para o telhado do velho casarão cor de tijolo, de uma arquitectura que fazia lembrar um bolo de noiva de três andares.

Era nesse telhado que costumava sentar-me, à sombra dos ramos de uma frondosa árvore, que, da casa vizinha, se debruçava sobre a “minha” janela.

Era aí que estudava, lia ou fazia as minhas serenatas aos gatos dos telhados vizinhos e às luzes da cidade.

No Penedo da Saudade ou no Choupal, cantava para as flores, para as árvores, para as águas do Rio Mondego e para as amigas e amigos que costumavam seguir os meus passos.

As então ruínas do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, numa das margens do Rio, abrigavam-me, quando precisava de estar só comigo mesma, ou de ouvir o silêncio que vinha das velhas pedras, para me reencontrar.

Foram tempos autênticos. Espontâneos. Reais. Tempo de ilusões. Só minhas.

Josefina Maller

sábado, 18 de junho de 2011

AS PEDRAS NÃO SE COMOVEM...

Por momentos

Fingi ser uma lágrima...

Fantasiava

Comover

Os corações empedernidos

E tentar fazer do mundo

Um paraíso...

Quanta ilusão!

As pedras não se comovem...

E o mundo continua

A ser esse lugar

Fustigado por todas as maldições.

...

Sei agora que a lágrima

É apenas um fluido

Que brota

De um coração dolorido...

© Josefina Maller

SUBLIME NATUREZA...



NADA HÁ DE MAIS SUBLIME E BELO DO QUE A VERDADEIRA LIBERDADE DOS CAVALOS À SOLTA... FOI PARA ESTA LIBERDADE QUE ELES NASCERAM... É PARA ESTA LIBERDADE QUE ELES EXISTEM...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

O SILÊNCIO...



           Em todo o Universo, nada existe de mais parecido com Deus, do que o Silêncio
                                                Mestre Eckhart - Frade dominicano

terça-feira, 7 de junho de 2011

CANTAREI...



Cantarei para ti esta noite...

Se a Lua vier...




Josefina Maller

A IMPOSSIBILIDADE DO SER...

A fuligem do tempo encerrou os seus olhos numa caverna.

Do lado de fora, as pedras espreitam. Nada dizem.

Os ramos das árvores dão o alerta.

Um mocho pia.
Mas a visão do paraíso já se afundou nas trevas.

Para sempre...
Josefina Maller
Origem da Foto: Internet

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O SONHO QUE NÃO CHEGOU A SER...



Era uma vez uma jovem que ao deixar Coimbra levou com ela um diploma e um sonho: descobrir ruínas do seu país, e dá-las a conhecer ao mundo. Mas levou também um amigo: o seu inseparável violão; e um instrumento: a sua voz (que viria a ser-lhe, aliás, muito útil).

O sonho desfez-se, logo à nascença, porque no nosso país, como sabes, as ruínas sempre existiram. Trata-se de um velho país, porém, mal governado por homens para quem as ruínas nada valem. Para quê desenterrá-las? Além disso, o dinheiro não chega para tudo. É preciso esbanjá-lo com o que está à superfície. Que interessa o passado? Que interessam as ruínas?

Logo que o meu sonho de ser arqueóloga se desfez com aquele «não é possível» que de Coimbra veio, para meu desespero, tive de pensar num modo de sobreviver. Comecei a cantar. Nas ruas, claro, em troca de algumas moedas, que iam caindo numa latinha de chá, muito florida, que eu havia um dia encontrado num caixote de lixo. Um modo de vida como outro qualquer.

 – Artista de rua! Ao que chegaste, minha amiga! Mas vá, continua.

 Voltara à grande cidade, onde já vivera antes.

Um dia... amanhecia. Um formigueiro humano de leiteiros, padeiros, lixeiros, mercadores, ardinas, gente da mais variada, movimentava-se pelas ruas, ainda meio adormecidas. O sol despontava por entre os altos prédios, que uma leve neblina fazia parecerem fantasmas.

 Era aquela a minha hora predilecta de passear. Noutras ocasiões, era à tardinha, quando o sol brinca às escondidas com o mar.

Eu caminhava descalça, envergando uma das minhas velhas túnicas floridas. Lembras-te?

– Como podia esquecer? Eras a única que as usavas.

Seguia sem rumo como uma sonâmbula, pelas ruas semi-desertas, levando comigo o meu violão. Até que cheguei a uma larga avenida. Que direcção tomaria? Talvez a do rio. Algures por ali devia ficar uma casa de fado que outrora pertencera a um amigo e onde eu costumava cantar as minhas baladas, quando vinha à cidade. Como era bom rever lugares já há muito deixados! O tempo passa, mudam-se as coisas, os lugares, as pessoas, mas as recordações permanecem imutáveis. A casa de fado lá estava, mas já não era a mesma. E que importava isso? Que importa a diferença das coisas quando elas não mais nos pertencem?...

 in «Cartas a Nany Blue» (por publicar)

(Foto: Josefina Maller no tempo em que o canto fazia parte da sua vida)


quinta-feira, 2 de junho de 2011

PARA REFLECTIR...


Obviamente, desde que somos seres humanos, eternamente existirão algumas espécies de conflitos, rivalidades ou mesmo divergências de opiniões. Entretanto, terminantemente, jamais deverá haver a necessidade de se nutrirem de ódio ou mesmo matarem-se uns aos outros.

Daisaku Ikeda